Lisboa - Foi a figura que, mais se notabilizou no período após os acordos de paz de Bicesse de 1991, que a 31 de Maio , completou 20 anos desde a sua assinatura em Portugal. Elias Salupeto Pena era, a época o Chefe da Delegação da UNITA à Comissão Conjunta Político -Militar (CCPM), o órgão reitor na implementação dos Acordos.
Era mais conhecido pela negativa através dos seus discurso inflamados na fase em que o ambiente de paz não inspirava confiança. Para os críticos, ele foi uma das figuras mais bem explorada pelo marketing político do regime angolano. Na altura aconteciam incidentes políticos e a comunicação social passava apenas as suas reacções “reacionárias” sem explicar aos telespectadores o que teria acontecido para o homem reagir de tal forma. Uma das reações foi ao assassinato, do então Secretario da UNITA em Malange, Pedro Makanga, e uma reação a dados de inteligência que alertava a planos do regime angolano que levariam ao assassinato de Jonas Savimbi, daí que Salupeto Pena ficou conhecido como o autor da frase “se tocarem no nosso mais velho isto vai ficar feio”.
Figuras que partilhavam com ele descrevem-no como uma pessoa tranqüila ao contrario da imagem que se teve dele na véspera do período da abertura do multipartidarismo. Há também quem explique os seus discursos inflamados como reflexo do marketing do regime ou a um alegado “excesso de poder” dado por Jonas Savimbi e que “lhe subira a cabeça”.
Elias Salupeto Pena, nasceu a 09 de Abril de 1952 em Caricoque, Província do Bié. é filho de Isaac e Judite Pena, a irmã mais velha de Jonas Savimbi. Fez os seus estudos primários na Missão do Chilesso, e os Secundários no Bié e no Lubango. O envolvimento com a UNITA aconteceu em 1974 participando em grupos de mobilização da juventude. No ano a seguir foi eleito como Secretário Nacional da JURA. Com o início da guerra civil, em conseqüência dos desentendimentos entre os três movimentos de libertação nacional, Salupeto Pena integrou ao Estado Maior das forças da UNITA, na província do Huambo e em Dezembro do mesmo ano saiu gravemente ferido em combate tendo sido evacuado (em 1976) para tratamento médico na Zâmbia. Após a recuperação permaneceu neste país como Representante da UNITA.
Dois anos depois, foi enviado para Costa do Marfim, onde licenciou-se em Agronomia. A época, o seu melhor amigo era George Rebelo Chicoty, antigo estudante da UNITA neste país africano. No sentido de o ver com uma especialização academica, o seu tio Jonas Savimbi enviou-lhe para França. Salupeto Pena pediu ao tio que lhe fizesse um “especial favor” que era de enviar também o seu amigo Rebelo Chicoty, a paris. Em privado, Jonas Savimbi dizia “não” ao pedido, sob alegação de que iriam distrair se “nas miúdas”. O tio cedeu as suas pressões e como prova de que estaria cumprir com as suas obrigações doutorou-se na capital francesa. Neste período, em que continuava com os estudos, foi nomeado Secretário das Relações Exteriores da JURA, até 1983, ficando conhecido pelo papel que teve na mobilização e enquadramento da juventude exilada e aos estudantes da UNITA.
Após a conclusão dos seus estudos, em 1987, regressou ao interior de Angola, sendo nomeado Secretário da Agricultura e Pecuária. Foi ele, o responsável da promoção do trabalho de desenvolvimento de auto-suficiência alimentar junto dos camponeses nas áreas controladas pela UNITA. Posteriormente seria nomeado Secretário do Planeamento Económico da UNITA.
No seguimento dos acordos de Paz de Gbadolite, em 1989, Salupeto Pena participou na delegação Negocial encabeçada por Jorge Valentim e posteriormente integrou a delegação negocial nas negociações em Portugal, que levaram aos Acordos de Bicesse. Em 1991 foi nomeado Chefe da Delegação da UNITA à CCPM, cargo que desempenhou até à sua morte. Foi eleito Deputado pelo Circulo Nacional nas eleições de Setembro de 1992 e participou nas negociações para a resolução da crise pós-eleitoral.
Na tarde em que iriam assinar os acordos que determinavam a segunda volta das eleições presidências em Angola, a cidade de Luanda entrou em “fogo cruzado”. Do hotel turismo onde se encontrava com os seus companheiros, telefonou para o seu homologo do MPLA, o general António França “Ndalu” para tentar perceber o que se estava a passar e teve como resposta: “façam o que poder”.
Logo a seguir ao contacto com general “Ndalu”, o engenheiro Salupeto Pena e os seus companheiros compreenderam que poderiam estar a premio e decidiram, abandonar Luanda em caravana rumo a Caxito onde se encontravam os generais Nbula Matadi e Abilio Kamalata Numa. O grupo de Salupeto pensava antes, em distribuir-se em diferentes embaixadas estrangeiras, de países onde trabalharam no passado. Porém, Geremias Chitunda que se encontrava em Luanda a cerca de dois dias para assinar o acordos de paz, teria desaconselhado tendo os mesmos decididos saírem em coluna. Nas redondezas do mercado do roque santeiro, foram seguidos pelas forças governamentais que atiraram contra os mesmos. Salupeto Pena foi gravemente ferido e levado a uma esquadra da Policia no Sambizanga onde seria torturado até, a morte, a 01 de Novembro de 1992. Posteriormente, o seu corpo teria sido levado para a sua viatura para ser apresentado pela televisão.
Os seus restos mortais teriam depois ficado sob custodia das autoridades governamentais. Após a morte de Jonas Savimbi, os familiares e membros da direcção da UNITA solicitaram, sem sucesso, a entrega do mesmo para ser enterrado condignamente. O destino dado aos restos mortais de Salupeto Pena foram objectos de versões dispares. A versão que mais se realçou em círculos restritos alegava que na qualidade de familiar direito de Savimbi, teriam reencaminhado o seu corpo para fins tradicionais, num ritual que teria contado com o envio, a Luanda, de um magno oriundo da Índia, razão pela qual diz-se que o corpo do mesmo já não existe.
O Golpe de Estado de Salupeto Pena
Um depoimento do general Perigrino Wambu, a radio portuguesa TSF, em 1992, ao tempo em que esteve sob custodia no Ministério da Defesa explica a tentativa de tomada do poder força atribuída a UNITA que tinha Salupeto Pena a testa. Segue a pergunta e a respectiva resposta que poder ser seguida na integra clicando aqui:Entrevista histórica do General Wuambo após ter sido preso em 1992
T.S.F. - Houve, ou não houve, uma tentativa da UNITA de tomar o po¬der pela força, nos dias que antecederam o fim-de-semana de 1 de Novembro? A UNITA tinha ou não tinha planos, co¬mo o Governo apresen¬tou, papéis assinados, alguns inclusivamente por si, de que havia planos para tomar o poder pela força em Luanda?
G.W. - Nenhum dos documentos prova um plano de tomada do poder pela força. Nenhum. A interpretação que o Governo está a fazer dos documentos, faz parte da sua estratégia para o desprestígio da nossa or¬ganização, UNITA. Não houve plano de ataque, de tomada de poder pela força. Pelo contrário. Eu estava no Hotel Turismo. Tinha uma guarnição de doze homens quando foi acordado que devíamos parar com as acções. Eu, como membro da Comissão Politica tenho direito a uma protecção de seis homens. Mas, nem sequer quatro eu tinha aqui, em Luanda. Multipliquemos isso por to¬dos os dirigentes que estão em Luanda. Foram as nos¬sas posições indefesas que foram atacadas. As provas estão aqui. A Comunidade Internacional está aqui, a Sra. Anstee confirmou-nos isso. Seguiram os contactos “rádio”. E eu quero subli¬nhar aqui, com todo o ênfase, que foi o primeiro combate que eles dizem, de tomada do poder pela força, onde os dois Comandos Militares estavam em comunicação via motorola. Nunca, em parte nenhuma do mundo, se toma o poder pela força, como o Governo quis dar a entender, em que o General N'Dalu e o Sr. Eng. Salupeto estão em comunicação - «pare¬mos o tiroteio», «paremos o bombardeamento». O Sr. General Ben-Ben e o Sr. General Higino estavam em contacto também. Ge¬neral Higino: «…não mova os seus homens, para lado nenhum, fiquem onde es¬tão, porque vamos parar is¬to». Marcaram um encontro para as 16 horas de sába¬do, para que parássemos com tudo, mas o Governo reforça a sua acção militar sobre os nossos dispositi¬vos e ninguém mais conse¬guiu encontrá-los. Que as¬salto é que houve? Qual a tentativa de golpe? O Go¬verno sim, levou a cabo uma missão absolutamente planificada, estruturada du¬rante muito tempo e que culminou com o extermínio dos nossos simpatizantes, com a destruição das nos¬sas infra-estruturas. E os factos estão, em Luanda, para o provar.